A escuridão de tanta tecnologia
O mundo tem evoluído muito na tecnologia. Porventura, evoluiu depressa demais. Hoje, tudo se faz através dos computadores, smartphones, via internet. Até o merceeiro que apontava no livro os ‘calotes’ dos clientes já tem um computador para faturar um quilo de grão de bico, ou dois ovos que o vizinho lá vai buscar. Antes, todos tínhamos os números dos telefones dos clientes, familiares e amigos, numa agenda, por ordem alfabética, escrita à mão. Agora, todos esses números, estão no smartphone. Quando ele cai ao chão... ‘Ai meu Deus que nem sei o telefone do pai, do filho ou da esposa’. Cai-nos o Carmo e a Trindade. Parecemos uma verdadeira ‘barata tonta’. Não sabemos para onde ir, o que fazer... Esta semana, a rede da Vodafone sofreu um ciberataque. Durante dois dias, deixou de haver comunicações daquela operadora, para além de outros ataques a outras empresas, porém, sem a dimensão do caso Vodafone. E, então, deitamos as mãos à cabeça ao verificarmos, afinal, quão frágil é toda esta panóplia de tecnologias. O país quase paralisou. Pequenos e grandes negócios ou foram adiados ou deixaram de se fazer. Deixámos de poder ligar para casa a dizer que o jantar podia ser para as oito; Deixámos de poder ligar para o filho a dizer para esperar no lado esquerdo da Rotunda no final das aulas. Ou seja, ficámos a saber que estamos nas mãos de alguém, algures no Mundo, que pode, inclusive, cortar a energia do país e deixar-nos durante horas, senão dias, às escuras. Às escuras no sentido literal do termo, mas também às escuras, como estamos, sem saber que, quem, como e porquê, fazem estes ataques. Pode ser um hacker a pedir dinheiro. Pode ser a Rússia a dizer “ai são amigos da Ucrânia, então tomem lá”. Pode ser muita coisa. Por isso, assusta esta escuridão. A escuridão de termos tanta tecnologia e não termos a tecnologia suficiente para nos defendermos. Ou seja: eles sabem tudo de nós. O número de Cartão de Cidadão, das finanças, de utente, a morada e até o nosso NIB. E nós não sabemos nada deles!