A azia de Nelson Évora
Os portugueses, de uma forma geral, têm inveja do seu vizinho. O sucesso, em vez de ser aplaudido, é normalmente questionado e constantemente desvalorizado. Vem este intróito a propósito da medalha conquistada por Pedro Pichardo. Nelson Évora é um atleta de eleição. Seria fastidioso elencar aqui todos os prémios por ele conquistados. Mas, perante a vitória de Pedro Pichardo, teve um ataque de inveja e, durante a prova do tão português quanto ele, em vez de aplaudir, como era sua obrigação, esteve a incentivar um adversário! Ou seja, fez-lhe mal o sucesso do seu compatriota. Nelson está na curva descendente da sua carreira, como é, aliás, perfeitamente natural. A idade não perdoa nos seres humanos e, Nelson, apesar de ser um atleta de eleição, também começa a não ter as mesmas faculdades físicas e mentais para continuar na senda dos êxitos. Acontece a todos. Mas esse facto não lhe pode tirar o discernimento necessário para entender que, nesta altura, Pichardo é melhor do que ele pelo menos no triplo salto. É esta a verdade. A continuar a não entender este facto, Nelson arrisca-se a perder, junto dos portugueses, todo o capital de simpatia que granjeou ao longo da sua fabulosa carreira. O saber sair de palco é tão, ou mais importante, do que estar em cima dele. Mas, curiosamente, pareceu-me que não foi só Nelson Évora que ficou com azia. Muitos comunicadores, a reboque do facto de Pichardo ter nascido em Cuba e não em Portugal, tentaram de alguma maneira desvalorizar a medalha dele em detrimento de outros atletas, muitos deles igualmente nascidos fora de Portugal. Temos que nos entender: ou representam Portugal ou não. Ficar no meio da ponte não interessa a ninguém.